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terça-feira, 1 de abril de 2008

"Simões não será capaz de construir o resto da casa”

É a primeira grande entrevista a João Francisco Campos. Siga com atenção...


DIÁRIO AS BEIRAS - A sua candidatura surge no culminar de um processo natural, mas também espontâneo...

JOÃO FRANCISCO CAMPOS – Sim, dado que sempre sonhei um dia ser presidente da Académica e, se calhar, por outro lado, esta não era a altura que tinha escolhido para me candidatar. As contingências originaram-no e falo obviamente da desistência de Maló de Abreu. No entanto, as pessoas que estão comigo, apesar da lista ter sido feita em pouco tempo, já falavam sobre a Académica há muito... e não foi assim tão de repente que surgiu a ideia.

Falando como ex-membro da sua lista, foram suficientes os motivos apresentados por Maló para desistir?
Foram pessoais e se ele achou que não havia condições para avançar, tenho de aceitar com muito pesar meu e manifestei essa opinião publicamente, tal como o desagrado pelo facto de não ter falado comigo aquando da decisão.

A desistência de Maló será o motivo para a espontaneidade e divisão entre os vários órgãos da lista... Esta ficou enfraquecida?
Não me enfraquece a mim, nem à Académica. Aliás, se ganharmos as eleições, não estaremos, de certeza, enfraquecidos. Confio nas pessoas que estão na minha lista e conheço-as todas. Quanto à divisão de órgãos, trata-se de algo que não me preocupa minimamente, bem pelo contrário. Quando me candidatei, sempre vim dizendo que tudo passava por uma questão de gestão da Académica. Continuo a defender que deve haver uma divisão clara de poderes nesta instituição. E essa divisão não tem existido, e por não ter havido levou, por exemplo, o presidente do Conselho Fiscal [Américo Santos] a demitir-se pouco depois de ter começado com José Eduardo Simões. Defendemos uma política a partir da direcção e não a partir de qualquer outro órgão. Aliás, convém dizer que há uma lista que se candidata, a do Conselho Fiscal, que iria acompanhar Maló de Abreu e que iria avançar mesmo que Maló desistisse, como se verificou.

A juventude da lista pode ser associada à inexperiência?
A maturidade, para alguém que está à frente da Académica, é relativa. O passado destas pessoas, que são da Académica, existe, mas, de facto, vivemos numa sociedade onde a idade é um handicap. Mas nós somos homens feitos e não jovens, imberbes, à procura de um lugar na sociedade. Tenho conversado com as pessoas e passa um pouco a imagem de que esta é uma lista de jovens e, se me é permitida a expressão, não me quero rir, mas fico preocupado. Aliás, quantas empresas e câmaras municipais têm à frente jovens? O presidente da Câmara Municipal de Arganil por exemplo, que é meu amigo, é mais novo do que que. Os jovens tomam, cada vez mais cedo, o seu lugar na sociedade. E quando apresentámos esta candidatura de homens feitos e não de jovens, sabemos o que estamos a fazer. A idade não faz um jovem, mas sim a sua falta de experiência. Um jovem é aquele que não tem a certeza do que está a defender, porque não viveu o suficiente para isso. Um membro da minha lista fez, recentemente, um exercício interessante e percebeu que os números de associados da minha lista, comparando com a Lista A, é menor, ou seja, por aí, até se pode concluir que o tempo de vivência com a Briosa nas pessoas da minha lista é maior...

E os eleitores percebem isso?
As pessoas têm de perceber que somos pessoas da Académica e que convivemos com pessoas mais novas e mais velhas e que pensam sobre a Académica. E têm de perceber que José Eduardo Simões já tinha dito, quando venceu as eleições de há três anos, que os alicerces estavam construídos e que queria chegar mais longe e agora volta a dizê-lo. Com este presidente, que está de costas voltadas para a câmara municipal, para a TBZ, etc, a Académica não irá conseguir, mesmo com os tais alicerces, construir o resto da casa e ficará com os alicerces eternamente, com o passivo sempre a rondar os 10 milhões de euros e a lutar para não descer...

Quais as principais preocupações desportiva e financeira?
Estão interligadas. Se não tivermos uma equipa competitiva, não teremos condições para baixar o passivo. A Académica tem, neste momento, um fluxo financeiro que nunca teve. O contrato com a TBZ, como se sabe, não é do conhecimento dos sócios. Um jogador que esteja a ser negociado não deve ser conhecido, mas os sócios devem conhecer a vida da Académica e sabemos que existem verbas e outros contratos estabelecidos por vários anos e que não foram apresentados. Porque é que o actual presidente nunca mostrou o contrato que tem com a TBZ em Assembleia-geral? Por outro lado, a Académica tem de parar, de ano para ano, de contar com muitos jogadores novos e alguns deles nem têm qualidade para entrar na equipa principal. Um dos mais recentes casos que me incomodou foi o do Zada, um dos mais graves. Porque ouvi o vice-presidente para a área financeira dizer que a Académica poupou 200 mil euros no processo de rescisão com o Zada, mas esqueceu-se de dizer quanto tinha pago pelo passe do Zada e quanto pagou pela sua rescisão. Tal como aconteceu com o Gelson e com o Danilo, que renovaram por dois anos e rescindiram o contrato no ano seguinte, obrigando a Académica a indemnizar os jogadores. Mas também sabemos que o actual presidente não vai dar dinheiro à Académica e, com certeza, nunca deu e eu, como presidente, também não o farei. O que se poderá fazer é avalizar letras, se essa for a necessidade, mas defendemos, por princípio, que a Académica deve ser gerida com o seu dinheiro.

E quanto à política desportiva?
Em primeiro lugar, a Académica tem de ter um projecto de três anos, pela estabilidade que é conferida ao grupo de trabalho. Domingos será o primeiro a ser contactado nesse sentido, mas para se comprometer com a direcção por três anos. A regra é que as equipas com estabilidade na equipa técnica são as que melhores resultados conseguem. Não queremos, por outro lado, ter uma equipa na qual as camadas de formação não tenham lugar. Por isso, a escolha do treinador será feita mediante critérios e mediante o orçamento. Queremos ter 18 jogadores e os restantes oriundos da nossa formação. Poderão não ser seniores de 1.º ano, mas que tenham crescido na Académica. Deverá ainda existir uma rede de olheiros, da qual dois ou três profissionais estariam sediados em Coimbra. Uma rede com critérios bem definidos.

A profissionalização é outro dos grandes objectivos?
Sem dúvida. A Académica não pode ser gerida a partir das seis da tarde. Já não se coaduna com o futebol moderno esse tipo de trabalho. Queremos ter um director desportivo, um para a formação e um director financeiro que dediquem todo o seu tempo profissional à Académica. É necessário existirem pessoas que dêem um horário de trabalho a esta instituição. Aliás, o que seria de uma empresa que gerasse este tipo de receitas e que não fosse pensada de forma profissional? Por exemplo, um jogador que tem um filho doente não pode estar preocupado se a sua mulher pode ou não levá-lo ao hospital, deve haver pessoas que trabalhem na Académica para esse efeito...

 
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